O meu propósito

O meu propósito:A vida...aqui espelho os meus devaneios,fantasmas,anseios e receios,imagens do meu quotidiano !Em arte só é válido aquilo que não pode ser explicado,a vida também é assim,não pode ser explicada! Contacte-me pelo email:watela.ngoi@gmail.com

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O nú nas minhas pinceladas

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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sonho de um "Camutangre"



...esta foi a imagem que apareceu no meu sonho...


  Fui para a cama muito cedo e na vã tentativa de conseguir pregar o olho deixei-me deambular por pensamentos e recordações dos tempos em que os mangais do Lubito eram um espectáculo cor de rosa em função da presença dos flamingos.As horas passavam a uma velocidade estonteante,já não eram só flamingos que povoavam a minha mente, meia acordada,meia adormecida,estava a sonhar.Finalmente o Governador do Lubito acedeu ao meu pedido de audiência feito  a uns 15 ou 16 anos quando o Lubito era apenas município de outra província...esfreguei as mãos de contente porque finalmente ía ter a oportunidade de formular  essa inquietante pergunta:sr governador do Lubito que importância têm os flamingos para a Província? 
   Foi quando o maldito despertador  fez aquilo para que foi programado,depertar-me, justo no momento que o digníssimo governador preparava-se para a devida resposta...eram 06.00 horas!
  Por volta das 07.00hrs quando tomava o café da manhã,  inconformado com o final do sonho,falei para os meus botões se não seria melhor deixar de sonhar!Assim não há camutangre* que aguente...maldito sonho! Caí na realidade,estava bem acordado e na Cidade do Lobito.
       Até o próximo sonho

*Camutangre ,habitante do Lobito tendo como hepicentro o bº da Canata(Cajanguela)
 -Lubito,Olupito,Lupito...Lobito

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Agora sim...pode ser contemplada!






   A imponente estátua "Monumento a Aviação" da autoria de Octávio Canhão Bernardes,pode agora ser contemplada por todos que por esta linda e acolhedora cidade passarem.
    Durante muitos anos ela ficou inacessível aos
olhares dos munícipes e visitantes já que localizava-se na praceta defronte ao aeroporto do Lobito(zona militarizada e restritiva).    
 A iniciativa da administração local merece o meu viva!!!
 Tenho certeza que permanece subjacente o pensamento do autor,pois ela apenas mudou de lugar,o enquadramento estrutural mantém-se: direccionada para o além-mar rumo ao progresso e conquista do infinito...assim também é o meu Lobito em festa "rumo ao centenário".A cidade sala de visitas de Angola  completa 97 anos (2 set.)...Parabéns Lobito

*Este "cavalo" é uma peça única no mundo: é oco, com uma película fina de bronze sobre estrutura cruzada de «rails» do caminho-de-ferro. 
Nos seus 7,50m de envergadura demonstra a perícia dos operários da Companhia dos Caminho-de-Ferro de Benguela, das oficinas do Huambo.Mais no post "Lobito sala de visitas de Angola"

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Lobito Antigamente




Encontrei essa relíquia submersa em água numa casa abandonada...LOBITO ANTIGAMENTE
Reparem bem como era a minha cidade: não existia o edifício da Rádio (1), o famoso prédio do Nimas 500 (2),o campo do Lusitano actual Electro (3), as instalações dos Bombeiros caponte (4)...o resto tentem descobrir vocês! Lembro que a colina da saudade estava ainda em obras!

Tintas,paletas...cores,formas...o resto é desconhecimento



  Os acontecimentos passam velozmente por  nós e obrigam-nos a rever as nossas opiniões,as nossas imagens anteriores da realidade.Tudo isso proporciona uma investigação que derruba antigas concepções da vida,as ideias vão e vêm a um ritmo frenético,diabólico!Eu tenho um código por meio do qual transmito as mensagens portadoras de imagens deste quadro que acabo de apresentar.
O meu código é a Arte através da pintura.Não tento pintar para um público universal,reajo aos gostos e estilos preferidos por um ou outro subgrupo da sociedade.
                      "Em arte só é válido aquilo que não pode ser explicado"

Sorrir sempre



sem título...óleo sobre tela ...21.08.2010 Watela


Depois de passar por uma experiência amarga aprendi que sorrir ainda é o melhor remédio,a melhor solução.

Sorrir até com aqueles que um dia te fizeram chorar...e isso não é cinismo,é perdão.Sorrir sempre,mesmo quando existirem razões para chorar...sorrir com quem mentiu,quem traíu,quem te ridicularizou,quem fingiu...sorrir com todos.
O sorriso liberta,faz viver de novo!
AHAHAH EHEHEHE HIHIHIHIHIHIHI

Mobília nova na "sala de visitas antiga"

"Sereia dos trópicos" (Octávio Canhão Bernardes,1919/2010) à esq.;réplica à dir.



Outras obras:"Caminhando"na colina da saudade,"O Poeta" na Restinga ,"Monumento
 a Aviação" brevemente na rotunda do posto de combustíveis Bolama(Pires Vasco),
"O Homem do Lomango" defronte aos Bombeiros/Caponte e tantas outras na província
do Bié e pelo mundo afora.Pois bem,esse grande artista morreu sem saber que a sua
obra- prima foi adulterada (?),ou melhor ,substituída e não restaurada e assim toda uma
história...as imagens falam por si!
As sete ou as mil diferenças?

Da minha objectiva

























...a minha "câmara" não resistiu...e vai daí um clic!!! A contrastar com as grandes infraestru-
turas que estão a ser erguidas na zona alta (bº 27 de Março/Lixeira) da cidade do Lobito...
que tal uma igreja?

Mais uma vez: ÁFRICA ou Á,F,R,I,C,A?




        Maio é o mês de A,f,r,i,c,a...perdão ÁFRICA era o que pretendia 
dizer e também já agora rectifico,apenas o dia 25 ...sim agora estamos
entendidos!Vamos Pensar África nesse dia e mais nada?!Porque ELA 
continua igual a si mesma,não importam os outros dias...porque os dias
em África parecem não contar,passam e nada ou quase nada muda...
África não é o berço da humanidade,é o bebé no berço da humanidade,
bebé que teima em não crescer,bebé que recebe como prendas brinque-
dos bélicos,daí as traquinices,as rebeldias...bebé mal adoptado por pais 
"trungungueiros" e exploradores,pais(?) que pretendem que o seu bem
amado filhinho não cresça.Assim é África "mimada e castigada" sob o 
olhar cúmplice do seu pior filho:o homem africano...girafas,rinocerontes,
elefantes,macacos...e etc,nada têm a haver!Apenas o homem.
Africa colonizada,explorada,violada...e no final endividada!Como?
Não compreendo mais África!
Para quando uma ÁFRICA sem "vírgulas"? Até lá...Á,F,R,I,CA  oyé

Considerações


                      

                                                  
"Quem não é capaz de administrar o seu  mercado e preservar os valores da sua
 identidade,transformando-os em contributo ao processo global,fica sem expressão" 
José Eduardo dos Santos  - (3º Simpósio sobre Cultura Nacional)

Beleza pura


    Pedra lascada...Cubal/Angola

por terras do Cubal/Benguela
    





























 Sempre que passo por essa pedra a caminho do Cubal(interior de Angola) faço
fotografias para a posteridade,pois essa imagem tarde ou cedo deixará de existir
...a separação vem de longa data,lembro-me  a cinco anos era de palmo e meio...
hoje está acima de metro e meio.
 Simplesmente maravilhosa...essa obra da natureza! Para quem já teve a oportu-
nidade de contemplar essa maravilha há-de ficar gravada na sua memória, essa
imagem escultural,imponente e ao mesmo tempo frágil...frágil porque não resiste
ao tempo, essa beleza vai tombar,sim tombar porque a "maldita" rachadura acen-
tua-se cada vez mais ...e irónicamente isso a torna ainda mais BELA!
     Até breve "Pedra lascada"...(é assim que a maioria dos viajantes te trata).

Homenagem ao Bibi



Sabino Fernandes apresentando um programa...
    O Lobito perdeu mais um dos seus ilustres filhos.Morreu o 
nosso amigo Sabino Fernandes, o "Bibi" como era carinhosamente 
tratado por todos aqueles que com ele privaram.
    O "manhã de domingo" programa radiofónico da Rádio Lobito ficou
sem a sua principal voz, o Bibi se calou mas deixa gravado nas
nossas memórias o slogam "everday...tous les jours...tekelateke...
todos os dias".
    Sabino "Calondjanda",amigo e companheiro de longa data partiste 
mas os teus feitos farão morada nas nossas vidas...Adeus amigo e 
que a tua alma descanse em paz...
"EVERDAY...TOUS LES JOURS...TEKELATEKE...
TODOS OS DIAS"

Augusto Bastos


Augusto Bastos O Angolano Prodigioso

campa no cemitério de Benguela...


 Augusto Bastos O Angolano Prodigioso 
Augusto Bastos é um dos mais ilustres angolanos de sempre.
Foi ao mesmo tempo jornalista e homem de letras, filólogo, historiador, etnólogo, compositor, pianista, artista plástico e o mais brilhante advogado e político do seu tempo.
As suas ideias libertárias estiveram na base das revoltas do Seles e Amboim, tendo sido preso pela polícia na sua casa de Benguela, no dia 2 de Junho de 1917, de madrugada, sob a acusação de ser o líder do movimento.

A figura de Augusto Bastos foi enaltecida numa obra de Geraldo Bessa Victor, um dos percursores do Movimento Vamos Descobrir Angola, e numa nótula histórica de Alberto de Lemos, grande historiador angolano.
Era filho de um abastado comerciante português estabelecido na cidade de S. Filipe, Manoel Thadeu Pereira Bastos, e “da preta Lauriana”, cuja ascendência se desconhece mas que era oriunda do Seles.
Augusto Bastos nasceu em Benguela, no dia 16 de Setembro de 1873. Pelo menos é essa a data que consta na lápide colocada na campa rasa onde está sepultado. Mas Geraldo Bessa Victor, que tinha laços familiares com essa grande figura da nossa História, afirma que ele nasceu em 16 de Agosto de 1872.
A data da sua morte não oferece dúvidas. Morreu no dia 10 de Abril de 1936, fulminado por um ataque cardíaco, na sua casa de Benguela. O jornal “O Intransigente”, de Gastão Vinagre, publica um obituário pungente onde é referido que morreu um dos mais ilustres angolanos de sempre.
A biografia traçada por Alberto de Lemos refere que Augusto Bastos “foi dos mais ilustres filhos de Angola que, na última década do século passado (Sec. XIX) até ao primeiro quartel deste (Sec. XX), aqui, neste meio africano, ingrato e hostil, mais se distinguiu”.
O grande historiador, que assina uma “História de Angola” (1932) das mais probas e honestas sobre a chegada dos portugueses à foz do rio Zaire e a ocupação colonial, tinha inteira razão.
Augusto Bastos ainda criança revelou ser um menino-prodígio. O pai não perdeu tempo e enviou-o para Lisboa, onde fez os estudos primários, secundários e os preparatórios para a Universidade, tendo-se matriculado no curso de Medicina.
Mas a morte do pai obrigou-o a abandonar a carreira estudantil e regressou a Benguela para tomar conta dos negócios da família. Em Lisboa, como todos os meninos ricos da época, aprendeu música, pintura e línguas.
Teve uma professora de piano e aulas de canto. Falava e escrevia correctamente o francês. Com um mestre particular, aprendeu Belas Artes. Apesar de muito jovem, frequentava todas as instituições culturais e científicas da época. Foi um destacado aluno de Matemática e a paixão por essa ciência acompanhou-o até ao fim dos seus dias.
O cientista francês Camile Flammarion publicou estudos matemáticos sobre o Cometa Halley. Augusto Bastos, que era correspondente em Angola e sócio de várias instituições científicas, analisou os cálculos e descobriu que estavam errados.
Através da Sociedade de Geografia de Lisboa, da qual era membro, fez chegar ao cientista francês a correcção dos erros que cometeu. Camile Flammarion enviou-lhe uma carta a aceitar os erros e a agradecer-lhe as correcções.
E mostrou “vivo interesse” em conhecer tão ilustre matemático. Nessa altura, Augusto Bastos era um jornalista que impôs um estilo no jornalismo angolano e um escritor notável. 
Este episódio teve grande repercussão na época porque circulava uma espécie de lenda, segundo a qual Augusto Bastos era apresentado como alguém que apenas tinha a “quarta classe”, o que de resto é referido em muitos documentos da época e sobretudo em notícias de jornais.
Na verdade ele teve uma esmeradíssima educação, que lhe foi dada por alguns dos melhores professores que davam aulas particulares em Lisboa, no último quartel do século XIX, e que lhe transmitiram os ideais liberais, republicanos e até libertários.
Literatura policial
Augusto Bastos regressou a Benguela quando tinha 17 anos e pouco depois começou a revelar a sua prosa magnífica nos principais jornais de Luanda. Em apenas cinco anos, impôs o seu estilo único, numa prosa perfeita, muito incisiva e impregnada de um humor contagiante.
Durante uma década, os seus textos eram disputados pelos melhores jornais de Luanda e de Benguela. Sem nunca abandonar completamente o jornalismo, começou a dedicar-se, com grande sucesso, à literatura. As suas crónicas, muito poéticas, já indiciavam o nascimento de um grande escritor angolano.

E nasceu mesmo, numa vertente surpreendente. Augusto Bastos foi o primeiro angolano a escrever uma obra no géneropolicial. O título é “Aventuras Policiais do Repórter Zimbro” e foram publicadas seis novelas. São ficções muito raras, escritas numa prosa enxuta e ao mesmo tempo de uma imaginação delirante.
E sempre, como fio condutor, o finíssimo humor dos benguelenses, traço que nada nem ninguém conseguiu apagar até hoje. Ele ainda está vivo na prosa de Pepetela (Jaime Bunda) ou do cronista Jaime Azulay, naquela que é uma crónica lapidar, publicada neste jornal sob o título genérico de “Morro do Sombreiro” e conta as atribulações de um pinguim desterrado.

Para que ninguém tenha a tentação de ligar o “Repórter Zimbro” ao “Repórter X”, de Reinaldo Ferreira, lembro que o prodigioso jornalista português nasceu em 1897, quando Augusto Bastos já era o mais notável jornalista angolano da sua época. A haver afinidades, foi Reinaldo Ferreira que lhe seguiu os passos.

Além desta obra fez o que todos os grandes escritores faziam na época, folhetins no jornal O Lobito, novelas em fascículos para toda a imprensa da época e muitas crónicas.
Já se sabe que a crónica angolana está muito mais próxima da literatura do que do jornalismo, como bem mostra o grande mestre Arnaldo Santos, nesta sua última série “Observatório do Balão”, rubrica semanal no “Jornal de Angola”, temporariamente suspensa porque o autor está a escrever um romance.

Augusto Bastos é autor de outros livros muito raros mas que ainda se encontram nos alfarrabistas de Lisboa: “O Caçador de Leões” (1917), “Debaixo de um Búfalo” (1919), dois fascículos que foram publicados sob o título genérico “A Vida nas Selvas”. Há um terceiro fascículo, “A Vingança e o Fim de um Escravo”, que desapareceu, até dos alfarrabistas. Talvez a família conserve algum precioso exemplar.

O mais importante da obra de Augusto Bastos está nas áreas da filologia e da etnografia. Deixou-nos um compêndio de umbundu, que na época era chamado de “quimbundu de Benguela”. Mais uma obra perdida.
Mas na Sociedade de Geografia de Lisboa estão depositados o “Novo Método da Língua Bunda do Distrito de Benguela”, a “Monografia de Catumbela” e a sua obra mais notável, “Traços Gerais sobre a Etnografia do Distrito de Benguela”, de 1909. Neste livro, Augusto Bastos inclui os seguintes capítulos: da pronúncia e ortografia do umbundu, povos, governo político, organização guerreira, direitos civis, julgamento dos crimes e delitos, recursos económicos, principais cerimónias, crenças e superstições, usos e linguagem.

Estudar esta obra é conhecer Benguela e o espírito indomável dos benguelenses.
Músico e pintor
Augusto Bastos era um exímio pianista e um compositor de elevado mérito. Compôs sinfonias (perdidas?), cançonetas (muitas) e valsas, com destaque para a famosa “As Furnas do Lobito”. A Benguela do seu tempo era um farol cultural.
E Augusto Bastos pontificava nos saraus, tocando piano, declamando poemas, fazendo conferências de improviso. A sua obra musical é desconhecida do público.
Geraldo Bessa Victor diz que ele era um pianista excepcional e um compositor invulgar. A família é chamada a mostrar aos angolanos a obra musical deste angolano de excepção.
Nos 12 anos que viveu em Lisboa, Augusto Bastos teve aulas particulares de artes plásticas.
A pintura, sobretudo a óleo, foi uma paixão que, a par do jornalismo, o acompanhou sempre.
Geraldo Bessa Victor dá-nos conta que entre inúmeras telas de sua autoria, se destacam os retratos de Teófilo Braga e António José de Almeida, dois visionários da República com os quais Augusto Bastos conviveu e, muito provavelmente, conspirou em Lisboa, nas tertúlias republicanas.
Investigação Histórica
Em 1928, o alto-comissário de Angola, Norton de Matos, deu a Augusto Bastos a missão de criar o Arquivo Histórico de Angola. Foi o seu último trabalho de grande fôlego, mal remunerado e nada respeitado. Porque quando o alto-comissário foi substituído, o novo governador desvalorizou o trabalho.
Mas Augusto Bastos já tinha inventariado e catalogado mais de dois mil processos. O trabalho foi metido numa cave, longe do palácio, abandonado aos ratos e à salalé.
Anos mais tarde, o que restou desta preciosa documentação foi para o Museu de Angola, hoje Museu de História Natural. Alberto de Lemos, a propósito desta catástrofe cultural, escreve na biografia de Augusto Bastos: “o que se pôde salvar do tremendo naufrágio está hoje recolhido com carinho no Museu de Angola”.
Enquanto fazia o trabalho de investigação, Augusto Bastos produziu um manuscrito com toda a bibliografia angolana, desde que foi instalada a imprensa em Angola. As bibliotecas municipais de Luanda e de Benguela, duas casas de cultura de importância excepcional, tinham cópias do manuscrito. Eu próprio consultei a de Luanda. O original esteve em posse de Alberto de Lemos, que o depositou no Museu de Angola.

As autoridades que guardam o espólio de Augusto Bastos fazem um relevantíssimo serviço à cultura angolana se publicarem o manuscrito.
Intelectual revolucionário
Augusto Bastos era um homem de esquerda, republicano e socialista. Em Benguela foi sempre um líder político, tendo sido presidente da Câmara Municipal. No seu mandato, as ruas foram arborizadas e foram criados inúmeros espaços verdes.
Foi com ele que nasceu a Cidade das Acácias Rubras. Sendo um homem da “kuribeka”, durante a sua presidência foram abertas escolas e garantida a saúde pública. Um dia o governador-geral demitiu-o porque temia a sua influência entre “os nativos”.

O seu passado de revolucionário fez com que o regime colonialista o olhasse sempre com desconfiança. No dia 2 de Junho de 1917, de madrugada, a polícia assaltou a sua casa e levou-o preso, sob a acusação de ser o líder da revolução do Seles e Amboim. Com ele foram presos outros intelectuais benguelenses. Mas como a revolta estava a atingir Benguela, o governador teve de libertá-lo.

Neste período e ao mesmo tempo, rebentaram as revoluções do Libolo, Lucala e Dala Tando (Ndalatando). Os intelectuais do norte, António de Assis Júnior, Domingos Van-Dúnem, Filipe de Melo, Pedro Duarte e José Fontoura foram presos, torturados e levados para Luanda amarrados. As autoridades colonialistas estavam a decapitar as elites africanas, para evitar que a revolta alastrasse.

Muito ficou por dizer sobre esta figura extraordinária da História de Angola. Mas acabo com uma perplexidade. Sendo Augusto Bastos um nacionalista revolucionário, o Senado da Câmara Municipal de Luanda deu o seu nome a uma rua que ligava as Ingombotas à Maianga e ao Maculusso.
Fonte:Jornal De Angola/06-04-2010

Aviso






























    AS NOSSAS ESTRADAS  ... AVISO IGNORADO
 ...via Lobito/Culango/Luanda...justo na placa de aviso onde foram bater!!!

domingo, 22 de agosto de 2010

Lobito sala de visitas de Angola





Lobito-Estátuas Resistem ao Tempo na "Sala de Visitas" de Angola













             O Lobito é um destino turístico por excelência. A cidade está implantada numa baía natural com dois quilómetros de comprimento e 1400 metros de largura. Aqui está situado um dos principais portos da costa ocidental de África, o Porto Comercial do Lobito. No interior da baía, as águas são calmas e propícias à prática de desportos aquáticos.

Praias extensas estendem-se de um e doutro lado de uma restinga de areia com dois quilómetros de extensão que entra mar dentro em direcção a Norte. Nesta zona privilegiada, foi implantado o aglomerado urbano no qual pontificam exemplares de arquitectura únicos, que atestam a presença colonial portuguesa nesta região de África e igualmente a influência dos mestres ingleses que no início do século XX participaram na construção do porto e do Caminho de Ferro de Benguela.
Muitas pessoas ignoram que um dos motivos que proporcionou ao Lobito o pomposo título de “sala de visitas de Angola” passa hoje quase despercebido. Na cidade do Lobito encontramos um conjunto de estátuas que resiste ao tempo, transpondo milagrosamente as vicissitudes vividas pelo país desde a proclamação da independência nacional, em 1975, até à obtenção da paz definitiva no ano de 2002. Sem obedecer a qualquer critério de importância podemos apresentá-las: “Caminhando”, “Monumento à Aviação”, “O Homem do Lomango”, “O poeta”, “A Sereia dos Trópicos”. São obras de arte que permanecem como imagens de grata contemplação.
As estátuas têm a assinatura de um engenheiro português, Canhão Bernardes.

Escultor autodidacta de rara sensibilidade começou a fazer escultura, por entretenimento, aos 42 anos. Viveu no Lobito até à década de 70 do século passado. Com a inesperada eclosão da guerra civil, ele rumou para o Brasil e por lá se mantém, segundo informações que recolhemos e que, infelizmente, não pudemos confirmar. Canhão Bernardes deixou espalhado no Lobito e nas províncias do Kwanza-Sul e do Bié, o testemunho de seu extraordinário talento. Ao todo, tinha 14 obras em locais públicos até ao ano de 1972.
Na época estava em voga encher as praças públicas com heróis colocados em pedestais. Canhão Bernardes partilhava da opinião que, ao fomentar-se a escultura em lugares 
públicos, não deveria ser com a imposição de heróis. Estes, volta e meia são derrubados, em consequência da queda dos regimes e sistemas que simbolizam. Para Canhão Bernardes, a escultura devia significar algo mais para as pessoas, cujos itinerários se vão cruzando ao longo da vida. Um meio de aliviar, através da beleza, os percursos rotineiros entre a casa e o trabalho.
“A escultura deve servir como veículo de encanto e de Humanidade e criar um anseio de beleza, ajudando a evolução das pessoas, àa caminho de uma harmonia social”, disse o artista quando apresentou o projecto de uma escultura que veio a ser conhecida como “Monumento à Humanidade” na capital do Bié. Canhão Bernardes deixou fixada a marca indelével de seu buril virtuoso no rosto de várias cidades angolanas.
O “Monumento à Aviação” instalado na praça defronte ao edifício do aeroporto do Lobito enaltece a audácia e o espírito de conquista do homem face ao desconhecido. A escultura “Caminhando”, que se situa numa das suaves encostas da Colina da Saudade, com vista privilegiada para a baía e para o porto, convida à exaltação dos valores simples da vida, tão importantes como as mais inquietantes interrogações existenciais.
Na época, o “Monumento à Aviação” foi considerado obra notável de engenharia, inteiramente executada no Lobito e exclusivamente com recursos técnicos locais. Os trabalhos de fundição foram realizados nas oficinas dos Caminhos-de-Ferro de Benguela comandados pelo engenheiro Alberto Soares Ribeiro. Foi necessária muita ousadia, até se conseguir suspender, no pedestal, apenas por uma das coxas, um cavalo com 6,30 metros de comprimento do focinho até à cauda e pesando quase duas toneladas. Tal só foi possível por meio de uma barra de aço embutida na estrutura em bronze. O autor queria ir além de Milles na escultura “Pégaso”, na qual o cavalo rompante é sustentado por um matacão de bronze colocado no centro.

O cavalo voador

O artista recorreu ao cavalo como símbolo de transporte. E fê-lo, não como em “Centauro” ou “Pégaso”, nem tampouco em formato de flecha ou tapete voador como nos contos infantis das mil e uma noites. Mas sim como um foguetão, pesado e metálico: “A montada teria de vencer a gravidade e mover-se para o infinito, arrastando no dorso o Homem, que o comanda”.
Correndo num galope desenfreado, o animal é domado por um destemido cavaleiro. Com uma só mão, pousada sobre o seu dorso, o homem dirige a montada para o Oeste desconhecido. Cavalo e cavaleiro vão voando do Lobito para o mar, roçando a crista altaneira de uma vaga oceânica. Uma placa brilhante regista para a posteridade: “Aos homens que, depois do mar domado, querem o infinito”.

Mãos dadas à vida

“Caminhando”, embora nada tenha a realçar no que se refere à técnica empregue, mostra-nos um conjunto familiar, duas mulheres na sua lide diária, com balaios à cabeça, levando pela mão um garoto a saltitar. Uma das mulheres apresenta o ventre proeminente, na certeza de que, com a maternidade, vai contribuir para a continuação da espécie humana.
Observado à distância, o grupo escultórico, em silhueta, destaca a harmonia da família, a vida vivida na simplicidade e na dignidade.
A escultura tem 2,40 m de altura e foi executada em cimento de produção local, tendo custado na época uns simples 15 contos. Foi mandada executar pelo capitão Alves Aldeia, na época presidente da Câmara Municipal do Lobito, que vira uns dias antes a maqueta do projecto. Aqueles rostos, sem olhos, sem nariz e sem orelhas, pessoas anónimas que povoam um mundo sem desigualdades sociais, levam à meditação. O presidente da Câmara de então, não hesitou em mandar, de imediato, executar a obra.
“Caminhando” remete-nos a um súbito refrear no egoísmo, uma quebra na jactância de uma pretensa superioridade de uns sobre outros homens. Contemplando a singela silhueta projectada contra o sol poente, invade-nos um irreprimível desejo de compreender os outros como eles são, de sentir a sua mão na nossa, contentes de não mais nos sentirmos sós. Era esse, no fundo, o desejo do escultor. 
fonte:Jornal de Angola